Coz’ART: as ceiras de junco que ajudam um projeto de empreendedorismo social
O projeto Coz’ART foi lançado no final de 2015 pelo Centro de Bem Estar Social da Freguesia de Coz e trata-se de um projeto de empreendedorismo social, com vista à inclusão social e que visa a revitalização de uma arte centenária da freguesia e a formação de novos artesãos, na área da cestaria (peças em junco).
O UniPlanet falou com Ana Paula Pires que nos apresentou este projeto. |
UniPlanet (UP): Como nasceu o Coz’ART?
Coz ART (Artesanato, Ruralidade, Turismo), projeto do Centro de Bem Estar Social da Freguesia de Coz, uma IPSS de apoio a idosos; surge para promover a sustentabilidade da Instituição, por um lado e por outro o envolvimento com a comunidade, preservando uma arte secular que estava ameaçada (ceiras em junco tecidas em tear) e ainda a divulgação do Mosteiro de Santa Maria de Coz que se encontrava encerrado ao público.
Foi lançado no final de 2015, com o apoio da Câmara Municipal de Alcobaça. Trata-se de um projeto de empreendedorismo social, com vista à inclusão social e que visa a revitalização de uma arte centenária da freguesia e a formação de novos artesãos, na área da cestaria (peças em junco). Para além desta vertente, temos ainda a ruralidade e o turismo.
A Ruralidade procurará preservar o património material e imaterial da ruralidade local, que se tem mantido até hoje. Em parceria com a Junta de Freguesia e outras entidades temos vindo a promover passeios pedestres em trilhos já oficializados, para além da experiência que foi feita durante dois anos de cultura biológica com produtos autóctones, no quintal da Instituição. Tal produção, contribuía de forma significativa para a nossa sustentabilidade e a sua interrupção deve-se apenas ao facto de não ter sido possível substituir o hortelão que adoeceu.
Ao nível do Turismo e ao assumir as visitas guiadas ao Mosteiro de Santa Maria de Coz, a Instituição, através do seu projeto de empreendedorismo Social coloca-se ao serviço da Comunidade e divulga o que de melhor temos, em termos de património histórico e religioso.
UP: Quem são as caras por trás do projecto?
Os mentores do projeto são a direção da IPSS e a direção técnica. Os artesãos são a figura de relevo neste eixo do Artesanato – Eurico, Maria e Tittus.
Eurico Pereira Leonardo vice-presidente da instituição é também responsável pela produção da oficina Coz ART, enquanto artesão certificado recentemente. A sua aprendizagem teve início na infância, em casa, uma vez que a sua mãe era artesã. Esta atividade contribuiu para a economia familiar de forma relevante durante varias décadas do século passado, em toda a zona geográfica da ex-freguesia de Coz e alguns lugares limítrofes.
UP: Para além das carteiras que outros artigos fazem em junco?
As cestas de junco são a marca tradicional centenária aqui na freguesia. Habitualmente o cliente tem um atendimento personalizado. Faz-se à medida. Para além das cestas há agora artigos verdadeiramente inovadores. Em parceria com a Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, foi possível reinventar a arte, as peças e olhar sobre o estado da arte. A linha casa, já conta com alguns artigos e temos protótipos para colocar em produção oportunamente, que de alguma forma são revolucionários. Teremos uma montra privilegiada ao abrir a nossa loja online.
UP: Esta zona tem tradição na cestaria em junco?
Na freguesia de Coz, do concelho de Alcobaça, no distrito de Leiria, toda a gente se recorda de ter feito ou ter visto fazer cestos e tapetes em junco, embora sejam cada vez menos as pessoas que se dedicam a este trabalho. Ainda hoje, são sobretudo os esteireiros as pessoas que reservam a herança cultural acumulada durante décadas. São o maior veículo de disseminação do conhecimento dos seus antepassados.
UP: Estão localizados num espaço antigo cheio de história. O que já foi este edifício antes?
Sim, o nosso espaço de arte é parte da adega das monjas. Tratava-se de uma adega comunitária, onde todos os habitantes da comunidade vinham fazer o seu vinho e onde deixavam desde logo uma parte para pagamento à Igreja.
Depois disso e como mais tarde todo o Mosteiro foi dividido em partes e vendido a particulares (primeira República), a adega não fugiu à regra. Nos anos 90, a família Barros, proprietária, abre uma galeria de arte, e foram ali feitas muitas pinturas. Mais tarde encerra, mas a Dra Helena (pintora), mantém o espaço como atelier e chega a fazer workshops para os jovens da comunidade, no sentido de lhes ensinar a dar os primeiros passos…
Passa para nós, com esse vínculo mantido, com uma energia artística, como um espaço que vem de séculos passados e que não chega a estar totalmente ao abandono.
UP: Também ensinam a arte de tecer o junco?
No ofício da esteiraria os guardiões do saber-fazer são, sobretudo, as pessoas mais velhas as detentoras de toda a informação e os responsáveis pela transmissão dos conhecimentos. Porque a esteiraria é um ofício ameaçado pelo esquecimento e pela industrialização da produção, porque a passagem de conhecimento não está assegurada é fundamental promover o ensino e despertar o interesse dos mais jovens para a arte de trabalhar o junco e para novas oportunidades de produção e consumo consciente – um dos objectivos do projecto Coz ART – garantir a troca de saberes intergeracionais.
Estamos a desenvolver um projecto de formação que conta com uma parceria do IEFP.
UP: Enquanto não abrirem a vossa loja online, onde podemos comprar os artigos do Coz’ART
Na antiga adega das monjas. Receção de visitas do Mosteiro de Santa Maria de Coz- Espaço Coz ART.
Coz’ART
969642970
[email protected]