Estudo liga marcas de moda à desflorestação da Amazónia
Um novo estudo da Stand.earth sobre as cadeias de abastecimento globais da indústria da moda, mostrou que grandes marcas podem estar a contribuir para a desflorestação na Amazónia, por causa dos seus fornecedores de couro.
O relatório, divulgado no dia 29 de novembro, descobriu que marcas como Coach, LVMH, Prada, H&M, Zara, Adidas, Nike, Fila, Puma, New Balance, Teva, UGG e Fendi têm múltiplas ligações a uma indústria responsável pela desflorestação na Amazónia.
São mais de 50 as marcas que estão ligadas ao maior exportador de couro brasileiro, a JBS, ligada à desflorestação na Amazónia e que assumiu recentemente o compromisso de atingir a desflorestação zero na sua cadeia de fornecimento global até 2035.
Segundo os dados, na última década a JBS desflorestou mais de 3 milhões de hectares, e as análises do projeto calculam que 81% da desflorestação tenha sido feito ilegalmente.
O Slow Factory criou um mapa interativo onde pode ser vista a relação das marcas e as empresas responsáveis pela desflorestação.
Várias das marcas mencionadas anunciaram recentemente políticas de desvinculação com empresas na sua cadeia de abastecimento que contribuíssem para a desflorestação.
“Com um terço das empresas analisadas a ter algum tipo de política em vigor, [seria de se esperar] que isto tivesse um impacto na deflorestação”, disse Greg Higgs, um dos investigadores do estudo. “A taxa de desflorestação está a aumentar, por isso as políticas não têm efeito material.”
Os investigadores esperam vir a expandir os seus estudos a outras indústrias que também utilizam muito o couro, como o setor automóvel.
Esta pesquisa mostrou que a indústria pecuária é a maior impulsionadora da desflorestação da Amazónia e a indústria da moda é um dos motores da exportação de couro.
Na verdade, as projeções mostram que, para continuar a fornecer aos consumidores carteiras, bolsas e sapatos, a indústria da moda tem de abater 430 milhões de vacas por ano até 2025.
A análise não prova uma ligação direta entre cada marca de moda e a desflorestação da Amazónia; em vez disso, os investigadores encontraram ligações que aumentam a probabilidade de qualquer roupa ser proveniente da pecuária na Amazónia, uma indústria descrita como a principal culpada da desflorestação.
Das 84 empresas analisadas pelo relatório, 23 tinham políticas explícitas sobre a desflorestação. Os investigadores acreditam que essas 23 empresas estão “provavelmente” a violar as suas próprias políticas. A LVMH, por exemplo, apresentou alto risco de ligação à desflorestação da Amazónia – apesar de no início deste ano a marca se ter comprometido com a UNESCO a proteger a região.
Sónia Guajajara, coordenadora executiva da Aliança dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), disse que as marcas têm “a responsabilidade moral, a influência e os recursos económicos” para parar de trabalhar com fornecedores que contribuem para a desflorestação na Amazónia agora, “não daqui a 10 anos, não em 2025 ”.
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