A guerra vai mostrar que importar 90% do trigo que comemos é uma má estratégia

A guerra vai mostrar que importar 90% do trigo que comemos é uma má estratégia

16 de Março, 2022 0

Em 2019, Portugal importou mais de 1,1 milhões de toneladas de trigo e produziu 59 mil toneladas, 47 mil das quais no Alentejo e cerca de sete mil no perímetro de rega do Alqueva.

“É inconcebível que importemos 95% do trigo mole para fazer pão. Andamos a comer açordas com pão feito com cereais da Ucrânia e do Azerbaijão”, disse Carpinteiro Albino, presidente do Clube Português de Cereais de Qualidade, ao Diário Alentejano no ano passado.

Portugal é altamente deficitário em cereais, apesar de nos últimos anos ter exportado milho e arroz. Em 2018, os cereais produzidos em Portugal correspondiam a 23% do nosso consumo, sendo que, em 1989, produzíamos 60% do que consumíamos, ocupando 900 mil hectares de terra, cerca de 10% do território nacional (em 2016 passou para 257 mil hectares).

A área que era ocupada pela cultura do trigo tem diminuído e sido substituída por outras mais rentáveis e os melhores solos foram ocupados por culturas permanentes, como o olival e o amendoal. Na zona de Ferreira do Alentejo, Beja e Serpa, cerca de 30 mil hectares migraram do cereal de sequeiro para o olival de regadio, de acordo com o Diário do Alentejo.

Em 2018, foi aprovado um conjunto de medidas de forma a atingir-se até 2023, um grau de autoaprovisionamento em cereais de 38% (80% de arroz, 50% de milho e 20% de cereais como a aveia, cevada e trigo). Entre as medidas prioritárias planeadas para reduzir a dependência externa consta: consolidar e aumentar as áreas de produção, criar valor na fileira dos cereais, viabilizar a atividade agrícola em todo o território, a redução dos custos de energia, a dinamização da produção nacional de semente certificada e de genética nacional e o acompanhamento do processo de reconhecimento das organizações de produtores. A simplificação do processo de licenciamento de infraestruturas hidráulicas; o aumento da capacidade de armazenamento de água e a melhoria da eficiência do uso dos recursos hídricos e energéticos; a valorização da produção nacional; o reforço do controlo sanitário à importação; e outras medidas agroambientais estão também contempladas na estratégia.

Uma das ações que entretanto já avançou foi o lançamento da marca “Cereais do Alentejo”, em 2019, por cinco organizações de produtores associadas da Anpoc – Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches, Cooperativa Agrícola de Beringel, Cersul, GlobAlqueva e Procereais.  A marca pretende contribuir para o desenvolvimento económico e social do país através da redução da dependência alimentar em relação ao estrangeiro e da consolidação e aumento das áreas de produção cerealífera.

A produção destes cereais contribui para a segurança alimentar do país e para a defesa do ambiente, já que os cereais (cultura de outono/inverno) consomem pouca água.

Em 2019, foram cultivados no país 20 mil hectares de trigo mole, quando em 2014 este cereal ocupava mais do dobro de superfície (46 mil hectares). A área de cultivo do centeio e da aveia passaram, no caso do centeio, de 20 mil hectares em 2014 para 15 mil hectares em 2019, e no caso da aveia de 51 mil hectares em 2014 para 35 mil hectares em 2019. No entanto, o trigo duro duplicou de área, durante o mesmo período, de dois mil para quatro mil hectares, e a cevada passou de 17 mil hectares para 20 mil hectares.

Em Portugal, o milho é importado principalmente de países de fora da União Europeia (71%, em média), a Ucrânia lidera o grupo das principais origens, seguido pelo Brasil, que tem vindo a aumentar a sua quota de mercado e a importação do trigo, pelo contrário, vem de países comunitários (96%, em média). No que se refere ao arroz, Portugal importa sobretudo das Guianas (56%), de Espanha e do Camboja.

A Ucrânia é considerada o celeiro da Europa pois mais de 70% do seu território é cultivável, sendo um dos principais exportadores de trigo e cevada. Este país é também o maior produtor de óleo de girassol do mundo. Segundo a Reuters, a Rússia e a Ucrânia representam 29% das exportações globais de trigo, 19% do fornecimento de milho e 80% da produção de óleo de girassol.

 

farinha

 

óleo

 

1ª Foto: Pixabay

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