Pedrógão Grande: plantaram eucaliptal onde deveria ser uma área de medronheiro
No início de junho, a associação da indústria papeleira (CELPA), onde estão integradas empresas como a Navigator e a Altri, anunciou estar a promover o projeto “ReNascer Pedrógão”, em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, na sequência do grande incêndio de 2017. Apresentou-o como uma “iniciativa emblemática no país”, de “gestão florestal exemplar”, baseado num processo “rigoroso” e com “apoio técnico continuado”. Um “projeto que tem por objetivo a certificação florestal”, que pretende “contribuir para a reposição dos serviços do ecossistema”.
Em julho de 2022, a QUERCUS e a ACRÉSCIMO depararam-se com “uma situação de evidente ilegalidade, reflexo de um projeto que foi adulterado na sua execução”, afirmaram as associações. Na parcela aprovada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em setembro de 2020, para a instalação de medronheiro, foi confirmada a presença de uma plantação de eucalipto.
Neste e em núcleos adjacentes, a QUERCUS e a ACRÉSCIMO constataram que, “na anunciada intervenção na construção e beneficiação de caminhos e aceiros, tendo em vista uma ‘maior resiliência aos incêndios’, os eucaliptos só não se visualizam nas faixas de rodagem. Foram plantados até aos limites de caminhos e aceiros”.
A QUERCUS e a ACRÉSCIMO denunciam ainda os impactos decorrentes da extrema mobilização dos solos. A mobilização em causa, com a construção de terraços em plena margem direita do rio Zêzere cria um significativo acréscimo do risco de erosão. Esta mobilização do solo ocorreu em plena Reserva Ecológica Nacional (REN) e no enquadramento do Plano de Ordenamento das Albufeiras de Cabril, Bouçã e Santa Luzia (POAC).
“Esta insistência no eucalipto revela falta de visão estratégica e compromete o futuro do território pela maior vulnerabilidade aos incêndios e pela perda de serviços dos ecossistemas. A aposta em espécies mais resilientes ao fogo, como é o caso do medronheiro e a de muitas outras plantas da nossa floresta nativa é essencial para uma resposta estrutural aos problemas que enfrentamos”, avisam as associações.
As associações denunciaram a incapacidade do Estado, nomeadamente do ICNF, na fiscalização das ações de arborização e rearborização que autoriza.
De acordo com a Celpa, já foram rearborizados cerca de 130 hectares de floresta, com a utilização de espécies como o pinheiro-bravo, o eucalipto, o medronheiro ou o carvalho, e construídos 54 quilómetros de caminhos e aceiros.
O ICNF afirmou, em comunicado, que este projeto de rearborização de 15,8 hectares, previa a plantação de 11,2 hectares de eucalipto e 4,61 hectares de medronheiro.
Hoje, dia 8 de agosto, o ICNF avisou que está em curso um processo de fiscalização da reflorestação promovida pela Celpa.
A Câmara de Pedrógão Grande e a Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG) comunicaram entretanto que não estão associados ao projeto-piloto.