Convenção de Berna Aprovou Redução do Estatuto de Proteção dos Lobos
A Convenção de Berna aprovou ontem, dia 3 de dezembro, a proposta da União Europeia para reduzir o estatuto de proteção dos lobos, passando de “estritamente protegido” para “protegido”. A decisão, que facilita a gestão populacional e, potencialmente, o abate de lobos, foi recebida com indignação pelas organizações de conservação e pelos especialistas em ambiente, que classificam a mudança como uma medida política, desprovida de fundamentação científica sólida.
Uma Decisão Polémica e Motivações Pessoais
A proposta surgiu no meio de um contexto controverso, com destaque para um incidente de 2022 em que um lobo matou o pónei de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. No ano passado, Von der Leyen foi criticada por afirmar que os lobos representavam também uma ameaça para as pessoas. Ursula von der Leyen descreveu a votação de ontem como “uma notícia importante para as nossas comunidades rurais e agricultores”, enfatizando a necessidade de uma “abordagem equilibrada” para proteger os seus meios de subsistência.
O impacto do crescimento populacional dos lobos tem sido apontado como justificação para a flexibilização da proteção legal, mas os especialistas discordam. Para Sofie Ruysschaert, da BirdLife Europe and Central Asia, esta decisão mina décadas de esforços para restaurar as populações de lobos, que estavam em vias de extinção. “Em vez de investirem em medidas de coexistência entre humanos e animais selvagens baseadas na ciência, os líderes optaram por uma narrativa política que torna os animais selvagens bodes expiatórios de desafios sociais mais amplos”, afirmou.
Críticas à Politização da Conservação
Organizações como a WWF e a ClientEarth denunciam que a medida reflete conveniência política e pressões de grupos de interesse, como o setor agrícola e os caçadores, em detrimento da ciência. Joanna Swabe, da Humane Society International/Europe, alerta que a decisão cria um precedente perigoso para outras espécies protegidas.
Florencia Sanchez, do Gabinete Europeu do Ambiente, salientou que a decisão compromete a credibilidade da política ambiental da UE, que historicamente se baseia em evidências científicas.
Divisão de Votos e Consequências
A votação decorreu em Estrasburgo, tendo a UE votado como bloco, contribuindo com 27 dos votos necessários para a aprovação. Apenas a Bósnia-Herzegovina, o Mónaco, Montenegro e o Reino Unido votaram contra, enquanto a Tunísia e a Turquia se abstiveram. O Conselho da Europa divulgará os detalhes da votação no dia 6 de dezembro.
A alteração entra em vigor dentro de três meses, a menos que um terço dos países signatários da Convenção se oponham formalmente. Grupos como a Green Impact já indicaram que vão contestar a decisão no Tribunal de Justiça Europeu.
Contexto e Preocupações Finais
Desde a entrada em vigor da Convenção de Berna, em 1982, as populações de lobos na Europa têm crescido significativamente, atingindo mais de 20.000 indivíduos. Contudo, os especialistas alertam que a flexibilização da proteção pode colocar em risco este progresso.
“A redução da proteção não vai resolver os desafios da coexistência nem ajudar os agricultores”, afirma Léa Badoz, do Eurogroup for Animals. Para os conservacionistas, as decisões futuras devem priorizar a ciência e procurar soluções construtivas, garantindo o equilíbrio entre as necessidades humanas e a conservação da natureza.