Arte, Sustentabilidade e Upcycling: Entrevista com Vanessa Barragão

Arte, Sustentabilidade e Upcycling: Entrevista com Vanessa Barragão

17 de Março, 2025 0

A artista têxtil Vanessa Barragão tem vindo a destacar-se no panorama artístico internacional pela forma como alia a arte à sustentabilidade. Com um trabalho inspirado no oceano e nas paisagens naturais, Vanessa utiliza técnicas tradicionais e desperdícios da indústria têxtil para criar peças únicas e impactantes. O UniPlanet conversou com a artista para conhecer melhor o seu percurso, as suas inspirações e a forma como a arte pode ser uma poderosa ferramenta de sensibilização ambiental.

 

UniPlanet (UP): Desde cedo mostraste interesse pelas artes manuais. Podes contar como foi o teu percurso criativo desde os primeiros crochés e desenhos até ao início da tua carreira profissional? Durante os teus estudos em design de moda, o que despertou a tua consciência para a sustentabilidade e o consumo responsável?

Cresci num ambiente profundamente artístico e artesanal, onde o feito à mão sempre teve um papel central. Foi esse contacto desde cedo que acredito ter despertado a minha grande paixão pelas técnicas manuais e pelo universo têxtil. Mais tarde, ao estudar Design de Moda, descobri nas tapeçarias a minha verdadeira linguagem artística e comecei a aprofundar o meu conhecimento nessa área. Ao mesmo tempo, esse percurso trouxe-me uma consciência mais profunda sobre o impacto ambiental da indústria da moda. Compreender essa realidade despertou em mim a necessidade de criar de forma mais ética, consciente e sustentável. Desde então, a sustentabilidade tornou-se um pilar fundamental do meu trabalho — não apenas como conceito, mas como uma prática real e constante, refletida na escolha dos materiais, nos processos e na filosofia por trás de cada peça que crio.

 

 

UP: O mar é uma grande inspiração para o teu trabalho. Que mensagens pretendes transmitir sobre os oceanos e a preservação ambiental através das tuas obras?

O mar é uma fonte constante de inspiração para o meu trabalho. Através das minhas peças, pretendo transmitir a urgência da preservação dos oceanos e a necessidade de respeitarmos o meio ambiente. A partir das cores que utilizo, dos materiais que seriam lixo e dos métodos de produção artesanais, procuro passar essa mensagem. Quero também destacar a importância de criar de forma mais consciente, utilizando materiais reciclados e técnicas sustentáveis. Acredito que, ao refletir sobre o impacto ambiental nas nossas criações, podemos contribuir para um futuro melhor, onde a arte seja uma aliada na preservação dos oceanos e de todo o planeta.

 

 

UP: Podes descrever como é o teu processo criativo? Desde a seleção dos materiais até à finalização das peças?

O meu processo criativo inicia-se com a escolha de materiais sustentáveis, aproveitando desperdícios da indústria têxtil. A cor é o ponto de partida! Seleciono paletas que me inspiram e, a partir delas, começo a idealizar a peça. Após definir a forma, quase sempre orgânica, inicio a criação, aplicando os fios a partir de técnicas ancestrais, como a esmirna, croché e feltragem sobre a tela. Durante a criação, permito que a obra evolua de forma orgânica, sem seguir rigidamente um plano pré-definido, o que confere espontaneidade e autenticidade a cada peça. No final é quando eu realmente conheço a obra e atribuo então um nome.

 

 

UP: Tens alguma peça ou projeto que consideres mais emblemático na tua carreira? Podes falar-nos sobre ele?

Um dos projetos mais emblemáticos da minha carreira é a “Botanical Tapestry”. Esta peça, com cerca de 6 metros de largura, foi criada para celebrar a parceria entre o Aeroporto de Heathrow, em Londres, e o Kew Gardens. Instalada no Terminal 2 do aeroporto, a tapeçaria representa um mapa mundo. Para a sua elaboração, utilizei cerca de 42 kg de lã reciclada, totalizando 520 horas de trabalho manual. Incorporei técnicas tradicionais, como a esmirna, croché e feltragem com agulha, para criar diferentes texturas e formas. Esta obra procura chamar a atenção para espécies ameaçadas, como os recifes de coral e diversas plantas ao redor do mundo.

 

 

UP: Que conselhos darias a jovens artistas ou designers que procuram alinhar a arte com os princípios da sustentabilidade?

O meu conselho passa sempre por apostarem na reciclagem e em métodos manuais de produção. Tudo é possível se usarmos a nossa criatividade. O lixo de uns pode sempre ser o ponto de partida para outros, e eu adoro este lema, pois foi assim que o meu projeto se tornou possível.

 

 

UP: Onde podemos encontrar mais informação sobre o teu trabalho?

No meu website e no meu instagram: @vanessabarragao_work

 

1ª Foto: Claudia Gori

Fotos: Studio VB

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