Inteligência Artificial consome milhões de litros de água e agrava escassez hídrica global

Inteligência Artificial consome milhões de litros de água e agrava escassez hídrica global

17 de Junho, 2025 0

A revolução da Inteligência Artificial (IA) está a transformar o mundo digital, mas traz consigo um custo ambiental preocupante: o consumo massivo de água. De acordo com a plataforma espanhola Maldita, gerar entre 10 a 50 respostas de texto com uma ferramenta de IA generativa consome, em média, meio litro de água – um recurso cada vez mais escasso à escala global.

Este consumo está diretamente ligado ao funcionamento dos centros de dados (data centers), instalações que albergam milhares de servidores responsáveis por processar milhões de solicitações digitais. Para evitar o sobreaquecimento dos sistemas, é necessária uma refrigeração intensiva, frequentemente feita com água, sobretudo em operações relacionadas com IA, onde a exigência energética é muito superior à de outras aplicações digitais comuns, como enviar e-mails ou armazenar ficheiros.

Água invisível que desaparece

Ao contrário da água usada em casa, que muitas vezes retorna às estações de tratamento, a água usada no arrefecimento de centros de dados é muitas vezes evaporada e não reaproveitada. Um centro de dados de 1 megawatt pode consumir até 25 milhões de litros de água por ano. Estima-se que, à escala global, os centros de dados consumam atualmente mais de 560 mil milhões de litros de água por ano, valor que poderá ultrapassar os 1.200 mil milhões de litros até 2030, segundo a Agência Internacional de Energia.

Os gigantes tecnológicos já começaram a reagir: Microsoft, Google e Meta anunciaram compromissos para repor mais água do que consomem até 2030, através de projetos de reabilitação ambiental. Em 2023, a Microsoft consumiu cerca de 8 milhões de metros cúbicos de água, um aumento de 21% face ao ano anterior, em grande parte devido ao uso do ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI. No mesmo período, a Google usou 24 milhões de metros cúbicos, 23 dos quais dedicados a atividades com o seu modelo de IA, o Gemini. A Meta registou um consumo de 3 milhões de metros cúbicos.

Um recurso precioso e em risco

Apesar de a água cobrir cerca de 70% da superfície terrestre, apenas 3% é água doce, e dois terços dessa encontra-se em glaciares ou é inacessível. Hoje, 1,1 mil milhões de pessoas não têm acesso regular a água potável, e quase 3 mil milhões enfrentam escassez hídrica pelo menos um mês por ano. Com o crescimento acelerado da IA, a pressão sobre os recursos hídricos agrava-se.

A ONU já alertou que, até 2030, quase metade da população mundial poderá viver em regiões com stress hídrico severo, e apelou à criação de tecnologias e políticas que desliguem o crescimento económico do aumento no consumo de água.

Há alternativas?

Face a esta realidade, investigadores como o professor Muhammad Shahzad, da Universidade de Northumbria, estão a desenvolver novas soluções de arrefecimento para centros de dados. Uma das propostas consiste em usar folhas de alumínio para transferir calor sem misturar humidade, poupando energia e água. Em testes realizados no centro de dados da universidade, este sistema mostrou-se mais eficiente do que os métodos convencionais e pode ser alimentado exclusivamente por energia solar.

Ainda assim, os especialistas alertam: é necessária uma mudança global no modo como desenhamos, regulamos e alimentamos as infraestruturas digitais. A IA promete transformar a sociedade, mas para que essa transformação seja sustentável, é urgente repensar o seu impacto ambiental – e, acima de tudo, hídrico.

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