Marineland encerra após mais de 50 anos, deixando incerto o futuro de 4.000 animais
O Marineland, o maior parque marinho da Europa e pioneiro no continente desde 1970, encerrou as suas portas de forma definitiva no passado domingo, 5 de janeiro de 2025. O encerramento surge depois da introdução de uma lei em França, que proíbe espetáculos com cetáceos a partir de 2026, e da queda acentuada do número de visitantes nos últimos anos.
O encerramento do parque, localizado na Riviera Francesa, assinala o fim de uma era, mas deixa muitas questões em aberto, especialmente no que toca ao futuro dos 4.000 animais que ainda se encontram nas suas instalações. Entre eles estão as duas últimas orcas mantidas em cativeiro em França: Wikie, uma fêmea de 23 anos, e o seu filho Keijo, de 11 anos, ambos nascidos em cativeiro.
O Futuro das Orcas: Um Impasse Ético e Prático
A principal preocupação dos defensores dos direitos dos animais é o destino das orcas. Libertá-las no mar foi descartado devido à sua incapacidade de sobreviverem em estado selvagem. O parque propôs a sua transferência para um zoo em Kobe, no Japão, mas esta possibilidade foi fortemente criticada pelas organizações de proteção animal e pela ministra francesa da Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher, devido às frágeis condições de saúde dos animais e ao facto das leis de bem-estar animal serem menos rigorosas no Japão.
Outra hipótese seria a sua transferência para um delfinário em Tenerife, mas os ativistas insistem na criação de um santuário marinho para garantir um ambiente mais próximo do natural. Contudo, até ao momento, não existe um local adequado que possa acolher os dois animais.
Mais de 50 Anos de História e Controvérsia
O Marineland foi fundado em 1970 pelo conde Roland Paulze d’Ivoy de La Poype, inspirado nos parques marinhos dos Estados Unidos. Durante décadas, foi um dos principais destinos turísticos da Côte d’Azur, recebendo até 1,2 milhões de visitantes por ano no seu auge. No entanto, a popularidade do parque foi diminuindo, em grande parte devido à crescente consciencialização do bem-estar animal, impulsionada por documentários como o Blackfish e campanhas de ativismo.
Os últimos anos foram marcados por tragédias, incluindo a morte de duas orcas em menos de cinco meses, que geraram uma onda de críticas às condições de cativeiro.
Impacto para os Animais e os Trabalhadores
Além das orcas, o parque é o lar de golfinhos, leões-marinhos, tartarugas e milhares de peixes, todos à espera de serem realojados. Os responsáveis do Marineland garantem que a prioridade é encontrar “as melhores instalações disponíveis” para cada espécie.
O encerramento afeta também diretamente os 103 funcionários permanentes e os cerca de 500 trabalhadores sazonais, que enfrentam um futuro incerto.
Um Sinal dos Tempos
O encerramento do Marineland simboliza uma mudança significativa na forma como a sociedade vê o entretenimento com animais. Apesar dos desafios logísticos e éticos, muitos ativistas celebram este acontecimento como um passo importante na luta contra a exploração animal.
Agora, o foco recai na procura de soluções sustentáveis e éticas para os animais que ainda permanecem no parque, enquanto a mensagem de que o cativeiro não é o destino ideal para a vida marinha continua a ganhar força.