Roupas de marca grátis? Projeto resgata peças no deserto do Atacama
Roupas descartadas no deserto do Atacama, no Chile – muitas delas de grandes marcas como Nike, Calvin Klein ou Zara e em perfeito estado – estão agora a ser resgatadas e oferecidas gratuitamente ao público. Esta é a proposta do Atacama RE-commerce, uma iniciativa inovadora que pretende dar nova vida às toneladas de vestuário abandonadas todos os anos pela indústria da moda.
O projeto, desenvolvido pela agência Artplan e pela plataforma de e-commerce VTEX, em parceria com o movimento Fashion Revolution Brasil e o coletivo chileno Desierto Vestido, quer chamar a atenção para um dos problemas mais visíveis e chocantes do consumo em massa: o desperdício têxtil.
Estima-se que mais de 40 mil toneladas de roupas sejam despejadas anualmente no deserto chileno – muitas delas sem sequer terem sido usadas. A maioria provém de excedentes ou devoluções de grandes marcas, oriundas dos Estados Unidos, Europa e Ásia, que, em vez de serem doadas ou revendidas a preços reduzidos, acabam abandonadas no deserto, criando o maior aterro de moda do mundo.
“Cada peça tem uma história e um propósito. A nossa missão é resgatar estes itens e dar-lhes uma nova oportunidade”, explica Mariano Gomide de Faria, CEO da VTEX.
Roupas grátis, com impacto positivo
O modelo é simples: as roupas são oferecidas gratuitamente através de uma plataforma online – os consumidores pagam apenas os custos de envio. Antes de chegarem ao público, todas as peças passam por um processo rigoroso de higienização, triagem e curadoria.
A primeira coleção, lançada a 17 de março, esgotou em apenas cinco horas, com pedidos vindos de países como Brasil, China, França, EUA e Reino Unido. Uma nova leva de peças deverá ser disponibilizada em abril, e os interessados podem registar-se para serem notificados assim que estiverem disponíveis.
Uma chamada de atenção à indústria da moda
Mais do que distribuir roupa, o Atacama RE-commerce é um ato de ativismo. Visa expor as consequências de um modelo de produção acelerado, pouco transparente e altamente poluente.
“A forma como produzimos moda está errada”, alerta Fernanda Simon, diretora do Fashion Revolution Brasil. ” Produzimos cada vez mais e a velocidade de produção é cada vez mais rápida. Não há transparência sobre a forma como estas roupas são feitas.”
Simon classifica ainda esta prática de despejo nos países do Sul Global como “racista e colonialista”: “Os recursos naturais vêm do Sul, os lucros ficam no Norte, e quando já não querem as roupas, devolvem-nas como lixo.”
Além do Chile, países como o Gana enfrentam realidades semelhantes, com toneladas de roupa a serem despejadas todos os dias. A iniciativa pretende, assim, abrir espaço à reflexão sobre circularidade, justiça social e ambiental e à necessidade urgente de repensar o modelo atual da moda.
Para participar
Qualquer pessoa pode aceder ao site do projeto e escolher as peças disponíveis. O custo? Apenas o valor do envio. É uma forma de estar na moda, sem contribuir para o ciclo destrutivo da fast fashion – e, ao mesmo tempo, fazer parte de uma solução global.
📦 Site e Instagram: @desiertovestido_tarapaca