Tartarugas expostas a níveis “extremos” de microplásticos no Mediterrâneo
As praias do norte de Chipre têm níveis “extremos” de poluição por microplásticos. Uma equipa de cientistas descobriu nestas praias níveis de poluição até agora só superados pelos registados nas praias de Cantão, no sul da China.
“Embora soubéssemos que a situação era má e estava a piorar, ficamos estupefactos ao descobrir apenas um outro local (…) mais afetado do que as praias da ilha de Chipre”, disse Brendan Godley, professor da Universidade de Exeter e coautor do estudo.
As praias cipriotas que os cientistas estudaram são locais de nidificação muito importantes para duas espécies ameaçadas de tartarugas marinhas: a tartaruga-verde (Chelonia mydas) e a tartaruga-comum (Caretta caretta).
Os níveis elevados de microplásticos – partículas de plástico com menos de 5 mm de diâmetro – nestas praias representam mais uma ameaça para estes animais.
Tanto as tartarugas adultas como as suas crias podem ingerir estes fragmentos e daí podem resultar vários problemas de saúde, incluindo obstrução intestinal e acumulação de substâncias químicas tóxicas nos seus tecidos.
Poluição por plástico numa praia da ilha de Chipre | Foto: Jessica Arrowsmith
Os investigadores recolheram mais de 1000 amostras de sedimentos de 17 praias usadas pelas tartarugas como local de nidificação no norte da ilha.
À superfície, a equipa descobriu até 130 mil fragmentos de plástico por metro cúbico. A concentração diminuiu com o aumento da profundidade. A 60 cm de profundidade, na areia, foram descobertas, em média, 5300 partículas por metro cúbico.
Segundo Emily Duncan, principal autora do estudo, a acumulação elevada de microplásticos acontece devido às correntes oceânicas, que arrastam os plásticos para as praias.
“A nossa análise sugere que a maioria [dos microplásticos nas praias do norte de Chipre] provém da bacia do Mediterrâneo oriental. Isto também se aplica aos itens de plástico de maiores dimensões encontrados em grandes números nas praias cipriotas”, explicou Brendan Godley.
Amostras recolhidas pela equipa | Foto: Annette Broderick
“Ao contrário das praias na China onde foram registados os níveis mais elevados de microplásticos, estas praias cipriotas estão localizadas longe de práticas industriais e não são visitadas por grandes números de pessoas”, disse o professor.
“A maioria das partículas [que encontrámos] eram granulados de plástico e pequenos fragmentos deste material. Os primeiros perdem-se durante o transporte ou através da má gestão de resíduos, os outros são o resultado da fragmentação dos milhões de artigos de maiores dimensões no mar.”
Os investigadores temem que as partículas de microplástico possam ter outras consequências imprevistas.
Quando expostos a temperaturas elevadas, os plásticos aquecem mais rapidamente do que a areia, podendo levar a um aumento das temperaturas dos ninhos das tartarugas. O calor da areia onde os ovos incubam determina o sexo das crias – uma temperatura mais elevada favorece o nascimento de fêmeas – e isto poderá causar diferenças no número de machos e fêmeas.
“São precisos mais estudos para investigar os efeitos dos microplásticos nos ovos das tartarugas”, concluiu Emily Duncan.