China legaliza comércio de produtos de tigre e de rinoceronte
A China anunciou ontem, 29 de outubro, que vai retomar, ainda que de forma limitada, o comércio de produtos feitos à base de partes de tigres e de rinocerontes, animais em perigo de extinção.
Os chifres de rinoceronte e os ossos de tigre só poderão provir de animais criados em cativeiro e ser utilizados em “hospitais qualificados por médicos acreditados”. “Sob circunstâncias especiais, a regulação da venda e uso destes produtos vai ser reforçada (…) o volume do comércio vai ser rigorosamente controlado”, pode ler-se no comunicado do governo.
Apesar da falta de evidência sobre a eficácia no tratamento de doenças, os ossos de tigre e os chifres de rinoceronte são usados na medicina tradicional chinesa mesmo tendo um impacto catastrófico na vida selvagem.
A medicina tradicional atribui virtudes, principalmente afrodisíacas, aos produtos derivados de tigres (ossos, garras, bigode e pénis). Os chifres de rinoceronte eram prescritos na medicina tradicional para combater a febre.
A WWF considerou que esta decisão vai ter “consequências devastadoras a nível global”, pois vai permitir que os caçadores furtivos e contrabandistas se escondam por trás do comércio legal.
“Com a população de tigres selvagens e rinocerontes num nível tão baixo e sob várias ameaças, a legalização do comércio de partes do corpo é simplesmente um risco demasiado grande”, afirmou Margaret Kinnaird, diretora da WWF.
“A decisão parece contradizer a liderança que a China tem assumido, recentemente, no combate ao comércio ilegal de espécies selvagens“.
“Com este anúncio, o governo chinês assina a sentença de morte dos rinocerontes e dos tigres selvagens“, acusou Iris Ho, diretora da Humane Society International.
O tigre está classificado como espécie em risco de extinção pela UICN. Atualmente existem menos de 4000 tigres em estado selvagem.
A UICN classifica as espécies distintas de rinocerontes em várias categorias: “vulneráveis”, “quase ameaçado” ou “em risco crítico de extinção“.
Kate Nustedt, diretora em Londres do programa da associação Animals in the Wild é contra a criação de animais selvagens para fins farmacêuticos. “Existem alternativas sintéticas que são o futuro, sem crueldade, para a medicina asiática tradicional”, afirma.
A China tinha proibido o uso e comércio de ossos de tigre e de chifres de rinoceronte em 1993, depois de ter aderido à Convenção sobre o comércio internacional de espécies em perigo de extinção, que inclui mais de 170 países.
With only around 3,900 left in the wild, every tiger counts. But China’s latest move to lift the ban on tiger bone trade threatens to put a dark cloud over the world’s wild 🐯
— WWF 🐼 (@WWF) 29 de outubro de 2018