Indústria do plástico sabia que estava a poluir o mar nos anos 70 e passou décadas a negar responsabilidade
Quando é que a indústria dos plásticos se apercebeu dos problemas causados pelos seus produtos e o que fez quando o descobriu? Um novo relatório do Centro Internacional sobre Direito Ambiental (CIEL, na sigla em inglês) procura responder a estas questões.
Os plásticos são poluentes particularmente preocupantes já que não se decompõem rapidamente e se vão acumulando no ambiente à medida que mais artigos são produzidos. Os cientistas aperceberam-se do problema da poluição dos oceanos por plásticos nos anos 50, pouco depois da introdução dos plásticos derivados do petróleo nos bens de consumo.
Segundo o novo relatório, as indústrias química e petrolífera tinham ou deviam ter conhecimento dos problemas causados pelos seus produtos, o mais tardar, nos anos 70.
O que fizeram com essa informação parece ter sido, nas palavras de Steven Feit, advogado da CIEL e principal autor do estudo, “negar, confundir e lutar contra as legislações e as soluções eficazes”. “A narrativa de que os consumidores são os principais responsáveis pela crise dos plásticos é um mito de relações públicas perpetuado pela indústria petroquímica”, explicou o advogado.
Há décadas que a indústria dos plásticos se opõe a soluções sustentáveis, lutando contra os regulamentos locais sobre os produtos descartáveis de plástico, mesmo quando as provas da crise ambiental causada por estes produtos continuam a aumentar. Embora a indústria reconheça o problema, os produtores costumam defender que só são responsáveis pelos resíduos plásticos sob a forma de granulados de resina e que todas as outras formas de lixo plástico escapam ao seu controlo, explica o CIEL.
“As mudanças que os consumidores fazem por si só não resolverão a crise de plástico, enquanto centenas de milhares de milhões de dólares da indústria petroquímica estão a ser canalizados para a produção de novos plásticos. Precisamos de um tratado global vinculativo que regule a poluição de plástico através de todo o seu ciclo de vida, desde a produção até ao lixo marinho”, defendeu Steven Feit.
Foto: Reuters/Erik De Castro