30 autarquias portuguesas já utilizam alternativas aos herbicidas
De modo a alterar a prática generalizada no nosso país do uso dos herbicidas para controlo das ervas daninhas, a Quercus lançou em 2014 a campanha “Autarquias sem Glifosato / Herbicidas“, com a colaboração da Plataforma Transgénicos Fora.
O UniPlanet entrevistou Alexandra Azevedo, coordenadora da campanha “Autarquias sem Glifosato / Herbicidas” da Quercus, que nos falou um pouco sobre o “Encontro Nacional Alternativas aos Herbicidas – Exemplos e testemunhos”, que vai decorrer no dia 30 de março. |
UniPlanet (UP): Quantas autarquias já aderiram ao manifesto da Quercus “Autarquias sem glifosato”?
Como se poderá constatar no mapa no site da campanha são no total 30 autarquias, das quais 11 municípios e 19 freguesias. Curiosamente localizadas na sua esmagadora maioria em regiões mais favoráveis ao desenvolvimento da vegetação espontânea, ou seja com clima mais húmido.
UP: Que métodos utilizam?
As autarquias têm feito o seu trabalho de pesquisa e procura das melhores soluções, pelo que não teremos conhecimento de todos os métodos que estão a ser utilizados, mas da informação que temos obtido os métodos mais utilizados são os manuais (enxada) e moto-manuais (motorroçadora e roçadora), e ainda os mecânicos (destroçadores). Há também algumas autarquias que têm testado e utilizado alguns equipamentos de monda térmica, como a vapor de água.
Os pavimentos de calçada à portuguesa são umas das áreas que colocam mais desafios a um controlo adequado das ervas espontâneas, uma vez que a segurança pública nunca pode estar em causa, pelo que pode ser necessário uma combinação de vários métodos, por exemplo os motomanuais seguidos dos térmicos.
Foto: União das Freguesias Barreiro e Lavradio usa monda térmica para controlo de ervas daninhas
UP: O que leva, na sua opinião, a que as restantes autarquias continuem a usar glifosato nas suas ruas, mesmo após a OMS o ter classificado como “cancerígeno provável para o ser humano”?
Nunca é fácil mudar de hábitos, mesmo quando há um benefício individual direto, como mudar para hábitos de vida saudáveis! Por isso as autarquias que já conseguiram dar esse passo têm uma motivação, digamos, acima da média, que permitiu nuns casos uma mudança radical sem qualquer período de transição, noutros a um esforço de redução do uso de herbicidas ao longo de vários anos. Merecem destaque as freguesias de Praia do Norte (Horta – Açores) e Carvalheira (Terras de Bouro) que desde 2011 e 2013, respetivamente, deixaram de utilizar herbicidas pela sua própria iniciativa e motivação.
Por outro lado, os constrangimentos orçamentais que as autarquias enfrentam são mais um facto relevante para que a mudança não seja com a rapidez que desejaríamos.
Uma vez que o alerta e debate público sobre este assunto é relativamente recente no nosso país, o mais importante é a sensibilização de todas as autarquias e também dos cidadãos e da sociedade em geral, uma vez que todos têm um papel a desempenhar na procura e implementação das soluções. De facto, de forma mais estruturada e persistente este alerta e debate público apenas começou há 3 anos com o início da campanha da Quercus, com o apoio da Plataforma Transgénicos Fora, que desafia as autarquias a subscrever, agora com nova versão para novas subscrições, o manifesto “Autarquia sem Glifosato / Herbicidas”.
UP: Vai decorrer, no dia 30 de março, o Encontro Nacional “Alternativas aos Herbicidas – Exemplos e testemunhos”. Quer falar-nos um pouco sobre o programa?
Têm-se realizado vários encontros e debates sobre as alternativas aos herbicidas pelo país e pela iniciativa de diversas entidades para além da Quercus, como outras ONGA, autarquias, partidos políticos, organizações profissionais ou cidadãos, facto que é de louvar, por isso para este encontro queríamos dar-lhe uma dimensão nacional, conseguida também através do importante apoio institucional da ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias) e da ANMP (Associação Nacional dos Municípios Portugueses), em que procurámos privilegiar os exemplos e testemunhos de diversas autarquias.
Quero realçar ainda a componente prática do programa com a demonstração dos equipamentos pela freguesia da Estrela, que tem sido notável no seu pioneirismo na procura das soluções mais eficientes e eficazes na limpeza das inúmeras áreas de calçada à portuguesa que esta autarquia, no coração da cidade de Lisboa, tem de cuidar.
Estamos convictos que pelas características, diria, especiais deste encontro se dê um forte impulso à mudança de mentalidades e de práticas na gestão dos espaços públicos, e não só, no nosso país.
UP: Na sua opinião, o que podem fazer os cidadãos que morem em cidades onde se continua a usar glifosato nas ruas?
O tipo de práticas na gestão dos espaços públicos é paradigmática da importância das lideranças políticas e a mudança pode mesmo surgir quase de um dia para o outro, mas na falta de lideranças políticas os cidadãos podem ter um papel decisivo!
No site da campanha temos uma área reservada precisamente a várias sugestões sobre o que os cidadãos podem fazer.
Desde o início da campanha foi sempre um objetivo a mobilização dos cidadãos cabendo-nos incentivar, coordenar e liderar de certo modo as diversas iniciativas, não só porque o trabalho depende quase em exclusivo de uma única voluntária, eu própria, apoiada por outros voluntários e quadros profissionais da Quercus, mas sobretudo porque a solução tem de passar pelo esforço de toda a sociedade: responsáveis políticos, técnicos, organizações não governamentais e cidadãos.
UP: Para terminar, o que pensa das fusões que têm ocorrido recentemente, como no caso da Bayer-Monsanto, Dow Chemical-Dupont e da Syngenta-ChemChina?
Estas empresas formam um oligopólio no controlo das sementes, nomeadamente as transgénicas, e nos pesticidas, pelo que estas fusões aumentam ainda mais o seu poder e controlo sobre o setor da produção agrícola mundial, pelo que o poder dos agricultores, em especial os pequenos agricultores, neste mercado cada vez mais monopolizado, assim como o poder dos consumidores que somos todos nós, sobre os alimentos que consomem e o modo como são produzidos é cada vez menor.
Para parar esta corrida frenética pelo controlo do direito a semear e a comer – no fundo, o direito a viver – bastava simplesmente que as autoridades da concorrência começassem a atuar, mas serão necessárias também políticas públicas de apoio consequente a um sistema alimentar que respeite o planeta e as suas populações (que começam a surgir, mas ainda são muito débeis) para uma mudança de paradigma mais rápida, sendo que os esforços de produtores e consumidores conscientes em resistir ao modelo dominante também têm dado e continuarão a dar os seus frutos.
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