Existirá mesmo um limite “seguro” para a perda de biodiversidade?
Estima-se que, em 58% da superfície terrestre do nosso planeta, a biodiversidade esteja agora abaixo do que os cientistas consideram níveis “seguros”, segundo um estudo recente publicado na Science. Mas existirá mesmo um nível “seguro” para a perda da biodiversidade e não será o desaparecimento de uma só espécie demasiado? Estas são algumas das questões que prevalecem e que têm sido vivamente debatidas pelos cientistas.
Para a realização do estudo, uma equipa de investigadores internacional examinou o que tinha sido previamente definido por especialistas como um “limite seguro” para a perda da biodiversidade, ou seja 10%. Por outras palavras, isto significa que se a abundância de espécies ficar abaixo de 90% do que era antes dos seres humanos surgirem e começarem a usar a terra, as espécies de que dependemos –e, eventualmente, nós – correrão o risco de ficar criticamente ameaçadas.
“A biodiversidade é essencial para o bem-estar humano”, disse Tom Oliver, ecólogo de paisagens da Universidade de Reading e autor do comentário que acompanha o estudo, apontando como exemplo as espécies das quais dependemos para a polinização das plantas.
Com base em mais de 2 milhões de registos de cerca de 40 mil espécies terrestres, os investigadores concluíram que, devido à utilização da terra e a outras pressões, a biodiversidade já se encontra abaixo desse limiar proposto no que se estima ser 58% da superfície terrestre do mundo – lar de 71% da população global.
Mapa: A perda de biodiversidade no mundo
Fonte: Tim Newbold, University College London
A ideia de que existe um ponto de viragem até ao qual é “seguro” perder-se biodiversidade não deixa de ser controversa. “Estes limites são objeto de enormes incertezas”, contou Tom Oliver ao Motherboard. Há quem debata se estes limites serão mundiais ou regionais e, segundo os autores do estudo, alguns investigadores acreditam que mesmo uma redução de biodiversidade de 70% ainda seria segura.
“Não sabemos qual é o limite seguro. Nem deveríamos tentar descobri-lo”, declarou Erle Ellis, da Universidade de Maryland. “O nosso objetivo é não levar o planeta até aos seus limites seguros.”
“Existem melhorias que podem certamente ser feitas, à medida que surgem mais dados”, explicou Tom Oliver. “No entanto, podemos ter a certeza de que a inação comprometerá o [nosso] futuro.”