Animais não conseguem evoluir suficientemente rápido para escapar à crise de extinções

Animais não conseguem evoluir suficientemente rápido para escapar à crise de extinções

23 de Outubro, 2018 0

Panda vermelho

Os seres humanos estão a exterminar espécies de animais e plantas tão rapidamente que o mecanismo de defesa da natureza – a evolução – não consegue acompanhar estas mudanças.

Mais de 300 espécies de mamíferos foram dizimadas por atividades humanas e, com elas, desapareceram igualmente 2,5 mil milhões de anos de história evolutiva, concluiu um novo estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Mesmo se acabássemos com a destruição de habitats, a caça furtiva e a poluição em 50 anos, e as taxas de extinções revertessem aos níveis naturais, seriam precisos entre cinco e sete milhões de anos para o mundo natural recuperar.

Sexta extinção em massa

Nos últimos 450 milhões de anos, houve cinco grandes episódios de extinção, durante os quais o ambiente mudou tão drasticamente que a maioria das espécies animais e vegetais da Terra ficaram extintas. Depois de cada extinção em massa, a evolução preencheu lentamente as lacunas com novas espécies.

Muitos cientistas acreditam que está atualmente em curso uma sexta extinção em massa da vida na Terra. Contudo, desta vez, as extinções não estão a ser causadas por desastres naturais, mas sim pelos seres humanos.

“Estamos a fazer algo que terá repercussões ao longo de milhões de anos”, disse o paleontólogo Matt Davis, da Universidade de Aarhus, que liderou o estudo. “Estamos a entrar no que pode ser uma extinção à escala da que matou os dinossauros.”

“Isso é bem assustador. Estamos a começar a cortar toda a árvore [da vida], incluindo o ramo no qual nos encontramos”, contou o cientista ao jornal The Guardian.

Elefante
Elefante africano, um gigante ameaçado de extinção

Em vez de somarem simplesmente o número de espécies perdidas, os investigadores calcularam a quantidade de tempo que cada espécie desaparecida demorou a evoluir desde o seu aparecimento para melhor refletir a sua singularidade, uma medida conhecida como diversidade filogenética.

Existem, por exemplo, centenas de espécies de musaranhos, mas poucas de elefantes. O desaparecimento dos elefantes seria como se cortássemos um grande ramo da árvore da vida, explicou o paleontólogo, ao passo que a perda de uma espécie de musaranho seria como podar um pequeno galho.

A equipa estimou que, se o atual ritmo de extinções persistir, desaparecerão mais 1,8 mil milhões de anos de diversidade filogenética nos próximos 50 anos.

Um mundo sem gigantes

Alguns animais já extintos – como o leão-marsupial (Thylacoleo carnifex) ou o macrauquénia – representavam linhagens evolutivas distintas e tinham poucos parentes próximos. Quando estes animais ficaram extintos, desapareceram com eles ramos inteiros da árvore evolutiva da vida. E isto significa que, para além de termos perdido estas espécies, também perdemos as suas funções ecológicas únicas e os milhões de anos de história evolutiva que representavam.

As perdas dos mamíferos de grande porte, ou megafauna, já estão a afetar os ecossistemas.

Vivemos, hoje em dia, num mundo sem gigantes”, disse o paleontólogo. “Por isso as sementes das frutas de grandes dimensões já não são dispersas porque já não temos mamutes, gonfotérios ou preguiças-gigantes a comer esses frutos.”

Outro exemplo é o declínio dos lobos, que faz com que os predadores mais pequenos, como os coiotes, prosperem, levando à morte de mais aves e alterando radicalmente as cadeias alimentares.

Lémure
Indri indri | Foto: Pierre-Yves Babelon/Universidade de Aarhus

O estudo também ajudou os investigadores a identificar espécies altamente ameaçadas com longas histórias evolutivas, ajudando assim a estabelecer prioridades de conservação. Entre estas espécies estão o panda-vermelho, o rinoceronte-negro e o lémure Indri indri.

Espécies criticamente ameaçadas, como o rinoceronte-negro, correm um elevado risco de ficarem extintas nos próximos 50 anos. Os elefantes asiáticos, uma das espécies sobreviventes de uma ordem de mamíferos que incluía os mamutes e os mastodontes, têm uma probabilidade inferior a 33% de sobreviverem para além deste século.

“Embora tenhamos, em tempos, vivido num mundo de gigantes (como os castores, tatus e veados gigantes), vivemos hoje num mundo cada vez mais empobrecido de espécies de mamíferos selvagens de grande porte. Os poucos gigantes que restam, como os rinocerontes e os elefantes, correm o risco de serem dizimados muito rapidamente”, disse Jens-Christian Svenning, professor da Universidade de Aarhus.

“Temos de parar urgentemente esta perda de diversidade natural, não só por causa da importância da vida selvagem em si, mas porque as sociedades humanas estão tão inseridas nesta teia de vida como os tigres, os abelhões e as prímulas”, defendeu Tony Juniper, da WWF. “Quanto mais danificarmos o tecido da natureza, mais comprometemos o nosso próprio futuro.”

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